Por Kauê Guella Buso – Diretor de Novos Negócios – Juscon Assessoria Contábil
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ICF (FIESP): Análise 2023 e 2024 e os Impactos no Setor Industrial!
Venho analisando o Indicador de Condições Financeiras da FIESP (ICF-FIESP) há algum tempo e o indicador demonstra-se muito valioso quando falamos da possibilidade de anteciparmos as análises dos ciclos econômicos com base em variáveis financeiras domésticas e externas. Resolvi escrever este artigo analisando o desempenho do indicador e de seus componentes entre janeiro de 2023 e novembro de 2024 para refletirmos um pouco sobre os impactos no setor industrial e possíveis perspectivas futuras.
Qual a metodologia por trás do ICF?
O Indicador de Condições Financeiras da FIESP (ICF-FIESP) é elaborado a partir de uma metodologia robusta que sintetiza múltiplas variáveis econômicas, fornecendo uma visão abrangente sobre as condições financeiras e sua relação com a atividade econômica. Os principais passos que compõem sua construção são:
Coleta de Variáveis Financeiras:
São consideradas 26 variáveis domésticas e externas, organizadas em sete grupos:
- Juros no Brasil
- Juros no Exterior
- Risco
- Moedas
- Petróleo
- Commodities
- Mercado de Capitais
Análise de Componentes Principais (PCA):
- Utiliza-se a técnica de Análise de Componentes Principais (PCA) para reduzir a complexidade dos dados.
- O primeiro componente principal de cada grupo é extraído, representando o comportamento conjunto das variáveis.
Regressão com a Atividade Econômica (IBC-Br):
- Os componentes principais são regressados contra a variação em 6 meses do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), uma proxy mensal para o PIB trimestral.
- Essa etapa determina os pesos de cada grupo no cálculo final do ICF-FIESP.
Cálculo do Indicador Final:
- Os componentes principais ponderados pelos pesos estimados são combinados para formar o índice final.
Teste de Granger:
- Realiza-se o Teste de Granger para validar a capacidade do ICF-FIESP de prever ciclos econômicos.
- Os resultados mostram que o indicador antecipa movimentos da atividade econômica doméstica em um intervalo de 3 a 6 meses.
Analisando o Desempenho do ICF-FIESP…
em 2023:
Os índices do ICF-FIESP em 2023 mostraram flutuações consideráveis, refletindo um ambiente econômico desafiador, um pouco sobre isso em tópicos:
Tendência Geral: O índice iniciou em 1,21 (jan-23), atingiu um pico em 1,78 (out-23), mas encerrou o ano em 0,3 (dez-23). Essa dinâmica aponta para um ambiente de aperto monetário e impactos significativos no setor industrial, especialmente nas cadeias de suprimentos e nos custos de financiamento.
Principais Fatores de Impacto:
- Juros no Brasil: Em queda gradativa, mas ainda elevados, variando de 0,44 (jan-23) para -0,13 (dez-23).
- Juros no Exterior: Demonstraram consistência em alta, alcançando 1,09 (out-23).
- Commodities e Petróleo: Oscilaram negativamente, com destaque para os valores de commodities em -0,3 (jun-23).
- Mercado de Capitais: Reação positiva em momentos específicos, como em outubro (0,34).
em 2024:
Os primeiros meses de 2024 revelam uma recuperação gradual, mas ainda com sinais mistos:
- O índice geral começou em 0,36 (jan-24) e alcançou 1,21 (nov-24).
- Componentes como Juros no Brasil saíram de território negativo (-0,15) para 0,45, indicando condições de crédito mais favoráveis.
- Commodities e Mercado de Capitais permaneceram com variações mistas, refletindo incertezas globais.
Análise de Componentes
Com base nos dados (mensalmente divulgados desde 2006 pela FIESP), é possível identificar os seguintes movimentos significativos nos componentes do ICF-FIESP:
- Juros no Exterior: Consistentemente elevados em todo o período, com destaque para 1,14 (mai-24) e 1,04 (nov-24).
- Risco: Embora apresentando valores negativos na maior parte do tempo, o componente indicou uma estabilização relativa em -0,05 (out-24) e -0,10 (nov-24).
- Moedas: O comportamento manteve-se volátil, com influência direta nos custos de exportação e importação.
- Petróleo e Commodities: Flutuações contínuas, impactando especialmente indústrias dependentes de insumos básicos.
Impactos no Setor Industrial
Aspectos Positivos:
- Recuperação Gradual das Condições Financeiras: O movimento ascendente do ICF em 2024 indica melhora nas condições de crédito, especialmente para investimentos em inovação.
- Estabilidade nos Mercados Externos: Juros externos consistentemente altos trazem previsibilidade para exportadores.
- Adaptação Tecnológica: Empresas podem aproveitar a queda no custo de capital para investir em automação.
Aspectos Negativos:
- Custo Persistente de Insumos: Flutuações nos componentes de commodities e petróleo continuam a pressionar as margens industriais.
- Risco Geopolítico e Câmbio: Movimentos bruscos nas moedas e eventos globais podem limitar os benefícios esperados.
O que podemos extrair dessa análise?
Num âmbito geral, podemos destacar um período de transição econômica notória como prerrogativa pelo comportamento do indicador em si. Apesar dos desafios, de forma generalizada, as indústrias têm oportunidade de alavancar melhorias nas condições financeiras, especialmente por meio de investimentos estratégicos e diversificação de mercados. Embora o índice seja muito confiável e uma ferramenta essencial para a antecipação de ciclos e apoio à tomada de decisão, precisamos levar em consideração que a miscigenação dos dados entre grandes corporações e pequenos empresários distorcem um pouco os “dados finais” quando traçamos um paralelo entre números frios e a “vida real”, ou melhor dizendo, a maior fração de realidade quando pensamos no volume de pequenas empresas brasileiras e seus enormes desafios como a disponibilidade de crédito por exemplo.